NASA anuncia vida desconhecida na        Terra Paula Rothman,        de  Quinta-feira, 02 de dezembro de 2010 -        17h09                    SÃO PAULO – Em coletiva de imprensa realizada hoje, a NASA anunciou        a descoberta de um ser vivo que, mesmo morando na Terra, é diferente de        qualquer outra criatura já encontrada e pode ser o primeiro passo para        redefinir o sentido da palavra "vida".                    "É extremamente importante porque essa foi a 1ª vez que se        descreveu um organismo que é capaz de sobreviver sem fósforo, usando        arsênico no lugar", explica o Dr. Douglas Galante, do Instituto de        Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São        Paulo.                    O organismo em questão é uma bactéria encontrada no lago Mono, na        Califórnia, e descrito em um trabalho pela pesquisadora Felisa Wolfe-Simon        na Science. Nesta bactéria, o arsênico, que é considerado um elemento        extremamente tóxico para outros seres vivos, está presente do                            Embora fósforo e arsênico tenham propriedades químicas parecidas,        este é muito mais instável. De alguma forma, a bactéria encontrada tem        mecanismos que conseguem lidar com o arsênico de forma nunca antes vista        em um ser vivo, o que pode significar que ela evoluiu paralelamente,        separada de todo o resto que conhecemos.                     "Ela pode ser definida como uma quebra de paradigmas. A descoberta        muda nossa maneira de buscar vida fora da Terra", diz Galante, que        atualmente coordena a montagem do laboratório de Astrobiologia da USP; a        ciência define o estudo da origem, evolução, distribuição e futuro da vida        no universo. "Até hoje, todos os organismos vivos que        conhecíamos precisavam de seis elementos básicos para a vida: carbono,        hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo, enxofre", explica Galante. Essa        lista de elementos básicos é conhecida como CHONPS (as iniciais de cada        elemento na tabela periódica) e servia de base para a NASA realizar buscas        por vida extraterrestre – mas acaba de mudar        ...                    Durante a coletiva, o professor James Elser, da Universidade do        Arizona, afirmou que, durante toda a sua carreira, ele teve a certeza de        que o fósforo era essencial para todas as formas de vida. "Até hoje, todos        os organismos usavam fósforo no seu metabolismo. Mas essa pesquisa muda        tudo...", disse ele. Ao buscar por vida fora da Terra,        astrônomos costumam usar o termo "life as we know it" ou "vida como a        conhecemos". "Sempre que a gente busca vida fora da Terra, a gente usa o        exemplo daqui, pois buscar vida como a gente não conhece é difícil.        Afinal, como saber o que procurar?", explica o        pesquisador.                    Isso significa que as agências espaciais e pesquisadores usam como        base a temperatura, a pressão e a presença de elementos, como água e        CHONPS, para encontrar seres vivos em outras luas e planetas. A descoberta        dessa bactéria no lago Californiano abre, portanto, a possibilidade de        buscarmos vida em regiões ricas em arsênico. "Este pode ser o primeiro        exemplo de life as we don´t know it", diz        Galante.                    A teoria de vida desconhecida não é exatamente nova. Já há alguns        anos, um pesquisador chamado Paul Davies vem propondo que existem        microorganismos que têm metabolismo tão diferente, tão único, que nós não        conseguiríamos detectá-los como "vida". "É como se tivéssemos ETs entre        nós – como até mesmo organismos sem                     As busca por esses organismos diferentes são feitas nos chamados        Extremófilos, ambientes que têm condições muito diferentes das condições        médias do planeta. Podem ser muito quentes, ou muito frios, com pressão        muito alta ou muito baixa, excesso de radiação e salinidade, ausência de        umidade ou, no caso do lago Mono da Califórnia, uma quantidade excessiva        de arsênico. "É no fundo dos lagos, pólos da Terra, vulcões, desertos, por        exemplo, que buscamos por organismos que seriam modelos do que poderia        sobreviver fora da Terra", diz Galante. A idéia faz sentido, uma vez que        jamais se encontrou um ambiente parecido ao terrestre no espaço – mas há        muitos dos chamados Extremófilos.                    O lago Mono, na Califórnia, se encaixa nessa categoria devido às        suas altas concentrações de arsênico. Os pesquisadores já conheciam a        bactéria em questão, e também sabiam que qualquer criatura que sobrevive        no lago deve ser tolerante a arsênico. Ser tolerante não é novidade – mas        o que a bactéria faz, sim. "O que os pesquisadores fizeram foi pegar os        organismos do lago e colocá-los em meios com cada vez menos fósforo e cada        vez mais arsênico, até chegar a um ambiente que só possuía arsênico",        explica Galante. Dessa forma eles descobriram que somente essa bactéria        sobrevivia na ausência de fósforo, usando arsênico em seu        lugar.                    "Esta é somente a ponta do iceberg. Podemos esperar a descoberta de        outros organismos que expandem nosso conceito de vida", diz Galante. O        pesquisador explica que, da mesma forma que o arsênico substitui o fósforo        na bactéria, pode ser possível que algum organismo possua silício no lugar        do carbono. "Apesar das semelhanças químicas, um organismo assim talvez        tivesse um metabolismo muito lento e se pareceria muito mais com um        cristal. E aí? Será que nós reconheceríamos um cristal que crescesse como        forma de vida?"                    A descoberta também tem outras implicações. "Isso pode indicar que,        em algum momento, a vida fez essa escolha: ou usa arsênico, ou usa        fósforo. Esse organismo talvez seja um fóssil muito remoto, um braço        diferente de evolução na vida terrestre", diz        Galante.                    Como disse a Dra. Felisa, durante a coletiva, "O que mais podemos        encontrar?".  |      |
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